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O Dragão e a Princesa

VIII capítulo - Um médico

O agricultor parou de plantar, o sapateiro parou de arranjar sapatos, o peixeiro parou de escamar o peixe, o talhante parou de talhar a carne, o carteiro parou de distribuir as cartas, o polícia parou de correr atrás do ladrão, o ladrão parou de fugir do polícia, a senhora da casa branca parou de contar os mexericos do dia à senhora da casa verde, o senhor do bigode grosso parou de jogar às cartas com o senhor do chapéu em bico e com o senhor das botas castanhas e com o senhor do cabelo rapado; e todos, ao mesmo tempo, começaram a fugir para todo o lado e a gritar:

E, cheios de medo de serem esturricados, atiraram-se todos os aldeões ao Dragão: o agricultor com uma couve, o sapateiro com um sapato, o peixeiro com um peixe, o talhante com uma perna de peru, o carteiro com uma carta, mas depois (achando-a muito leve) com o saco inteiro, o polícia com o apito, o ladrão com a galinha roubada, as senhoras da casa branca e da casa verde com os mexericos mais feios que conheciam (e se elas conheciam muitos e muito feios!) e os homens do bigode grosso e o do chapéu em bico e o das botas castanhas e o do cabelo rapado com todas as suas cartas.

Estava quase o Dragão a desmaiar de susto, a Princesa a desmaiar de saudade e os aldeões a desmaiar de medo, o que provocaria um raríssimo e muito aborrecido desmaio geral, quando, no meio da confusão se ouviu de repente uma voz familiar. Consegues adivinhar quem era?

— Parem! — gritou a voz, — parem todos! O Dragão é bom! É nosso amigo! É MEU amigo! 

Quem gritava assim era o Pedro! E se tu ficaste espantado que o Pedro aparecesse, mais espantados ficaram na aldeia com o que o Pedro dizia: 

— Ora essa?! — exclamou o peixeiro.

— Ora então?! — indagou o talhante.

— Amigos?! — disse o ladrão incrédulo.

— De um Dragão?! — perguntou o sapateiro.

—  Tu perdeste o juízo! — ralhou o carteiro!

— Vais ficar outra vez de castigo! — avisou o polícia, que era o pai do Pedro! — e desta vez nem sequer sais do quarto!

Já vi que acabaste de perceber o que aconteceu: tens toda a razão! Foi porque o pai do Pedro o pôs de castigo que ele deixou de poder subir ao castelo! Que mais havia de ser? Um amigo de verdade não deixa os seus amigos sozinhos sem sequer avisar!

— É verdade, o Dragão é bom! E é meu amigo!, — insistiu o Pedro.

—  Verdade? — disse o homem do bigode grosso, — É um disparate!

— Uma asneira! — concordou o homem das botas castanhas.

— Uma mentira! — acrescentou o homem do chapéu em bico, — Porque ainda há uns meses eu fui buscar lenha e este Dragão ia-me assando o rabo! Até fiquei com os olhos em bico e me achatou o chapéu!

— É verdade!, — repetiu o Pedro, — o Dragão só quer proteger a Princesa!

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